A REVOLUÇÃO HAITIANA UMA UTOPIA QUE O MUNDO DEVERIA CONHECER

  • 27/03/2023
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A REVOLUÇÃO HAITIANA UMA UTOPIA QUE O MUNDO DEVERIA CONHECER

O Haiti divide a ilha Hispaniola com a República Dominicana, uma das maiores ilhas das Antilhas, localizada na América Central. Provavelmente você nunca ouviu falar das façanhas da Revolução Haitiana, porém essa história deveria ser conhecida pelo mundo. Vamos mergulhar nessa história fascinante que deveria ser fonte de inspiração para todos os negros do planeta Terra.

Antes do tratado do Ryswick, acordo firmado em 1697, quando Espanha cedeu a parte ocidental à França, a Ilha era um só país. A partir de então, a ilha está divida em 2 colônias: a parte Oriental dirigida pela Coroa Espanhola e a famosa colônia Francesa que se tornou a pérola das Antilhas pelas riquezas que ela produzia. As condições de vida dos escravos nessa parte da colônia eram muito rígidas e repletos de crueldade. Um dos motivos era porque a população dos colonos era muito inferior comparada aos escravos Africanos, isso gerou um medo constante de uma provável rebelião e por isso eram mantidos sob forte repressão.
Os juízos de valores que os colonos tinham dos escravos não correspondiam exatamente à realidade. Vindo de vários países do continente Africano, eles eram considerados seres inúteis que só serviam para executar os serviços braçais. Poucos sabem que muitos deles, antes de serem capturados na África, eram grandes guerreiros, outros faziam parte da Corte Real destruída pelos colonos. Vendidos como escravos, estavam esperando o momento certo para mostrar toda a sua bravura e a sua nobreza. A vitoria do exército indígena sobre os Europeus provou que eles estavam totalmente errados com seus preconceitos.
A noite de 14 de agosto 1791 marcou um dos eventos mais importantes da revolução dos escravos de São Domingos, tal ocorrência terá como produto final a proclamação da independência da primeira República Negra do mundo em 1804, desafiando todas as potências coloniais da época. Naquela cerimônia de ritual Vodu, comumente chamada de “Bois Caïman” os escravos fizeram um juramento secreto em crioulo haitiano para não viver mais sob a dominação dos colonos brancos. Como eles eram de tribos e países diferentes, o Crioulo haitiano foi a língua de conciliação de várias crenças e idiomas em torno de um objetivo comum que era de derrubar o sistema escravocrata. O sacerdote Vodu Dutty Bookman e a sacerdotisa Cécile Fátima sacrificaram um porco e o sangue foi servido a todos os participantes que depois fizeram o juramento de não seguir na escravidão.
Os dias que seguiram a cerimónia de “Bois Caïman” foram muito amargos para os colonos Franceses, muitas plantações foram incendiadas e famílias inteiras dos colonos foram envenenadas. Logo os escravos fugiram para as montanhas para formar os quilombos da resistência. Esses grupos faziam inquisições de noite para atacar plantações e semear o terror na colônia. Quando a próspera Colônia de São Domingos estava em fogo e a revolta dos escravos tinha sido expandida para várias cidades, França tentou, em vão, retomar o controle da Colônia enviando várias missões civis. Mas a determinação e a coragem dos antigos guerreiros feitos escravos venceram a arrogância dos Europeus. Nessa vitória o vodu teve um papel fundamental, não é um acaso que até hoje ele é diabolizado a favor das outras religiões dos antigos colonos.
Os líderes Toussaint Louverture e Jean Jacques Dessalines, este último que será coroado como o primeiro Imperador do Haiti, lutaram com uma genialidade militar e estratégias incríveis para conseguir a liberdade para todos. A França até tentou dividir o movimento revolucionário oferecendo alguns dias de descanso para os cativos e a liberdade somente para os líderes rebeldes. Mas essa estratégia de dividir para reinar à essa altura não deu resultado satisfatório para a Metrópole. Há um general de quem se fala pouco na história, mas ele teve um papel fundamental na última batalha onde derrotou o maior exército do mundo naquela época: François Capois La Mort. Ele lutou arduamente desafiando a morte para derrotar o poderoso exército de Napoleão Bonaparte, conduzido pelo general Jean Baptiste Donatien de Vimeur, Conte de Rochambeau que se chamava vulgarmente Rochambeau. A batalha de “Vertières” que teve como slogan, “koupe tèt, boule kay” que significa “corta as cabeças, queima as casas”, foi vencida pelos escravos que expulsaram os franceses com o general Rochambeau.
Em 1º de Janeiro 1804 nasceu Haiti, a primeira República negra do mundo, segundo país independente do continente, contra os interesses das potenciais coloniais. O objetivo da nova República era libertar todos os países da escravidão, era uma finalidade perigosa. O Haiti através do acordo do Pan-Americanismo assinado entre Alexandre Pétion e Simon Bolivar, ajudou muitos países da América Latina a se livrar da escravidão tais como Venezuela, República Dominicana, Grécia… Uma coisa que quase não se fala nos livros de História, quando Grécia foi tomada pelos Antómanos na metade do Século XIX, foram os Haitianos sob a presidência de Boyer quem libertaram a Grécia. Por isso Haiti foi vítima do sindicato dos impérios coloniais que era constituído da Dinamarca, Espanha, Franca, da Inglaterra, dos Estados Unidos, da Holanda e da Suécia. Porque todas essas Nações não queriam ver uma Nação Negra independente e seus negócios ameaçados com as ideias revolucionárias dos haitianos. Era um péssimo exemplo a ser banido e aniquilado.
Após a Independência, as reações vieram de todas as entidades da sociedade escravocrata da época. As potenciais Colônias não reconheceram a Independência da jovem República, que foi obrigada a pagar uma forte indenização em dinheiro à França em troca do reconhecimento da liberdade adquirida a preço de sangue. Também ela sofreu bloqueios comerciais do sindicato dos impérios coloniais, uma das consequências desse ato, não conseguiu entrar na estrada do desenvolvimento.
No mundo literário a situação não foi diferente, os intelectuais do Século das Luzes e os revolucionários da Metrópole não queriam liberdade para os negros, e a Independência Haitiana não fez parte dos grandes escritos teóricos e filosóficos dos autores da época. Em outras palavras, a Independência Haitiana foi sempre uma vergonha, um entrave para o mundo Ocidental embasado na exploração da mão de obra dos cativos. Uma pequena análise da obra fictícia de Victor Hugo “Bug-Jargal “mostra claramente a sua tendência de valorizar as bondades dos colonos brancos e minimizar suas crueldades. A histografia Ocidental e quase totalidade das obras literárias tais como Ouruka de Claire de Duras, Toussaint Louverture de Alphonse de Lamartine minimizaram a importância da Revolução Haitiana, tentaram esconder ela e também banalizaram esse feito histórico sem precedente, a única Revolução Negra bem-sucedida do mundo.
A Revolução Haitiana é um dos maiores acontecimentos históricos do Século XIX. O Haiti deveria ser objeto de estudo e admiração do mundo inteiro. Os líderes da Revolução Haitiana antecederam à Declaração Universal dos Direitos Humanos, até porque os revolucionários e os idealizadores do renascimento queriam liberdade e direitos para algumas classes sociais, os haitianos queriam a liberdade para todos. Sendo assim, o Haiti deveria ser uma fonte de inspiração para todos os povos negros do mundo. Essa Nação deveria ser parte da União Africana pois é um pequeno reino Africano no Caribe. Imaginem um exército de escravos com armas rudimentares vencer um exército motorizado, o maior do mundo naquela época! Hoje o mundo Ocidental vende Haiti como uma vitrina de pobreza, um péssimo exemplo a ser seguido pelos outros países do Caribe que pretendem ser independentes. O mundo esqueceu por completo as façanhas dos guerreiros haitianos que ajudaram muitos países da América Latina a se libertar da escravidão. Hoje seria um momento para recompensá-lo, talvez com um outro tipo de abordagem dos seus cidadãos. Nos meios de comunicações no Brasil por exemplo, o Haiti é sempre associado com o desastroso terremoto de 2010, seria bem melhor mergulhar na história gloriosa desse povo, assim seus cidadãos serão vistos sob outra ótica. Pois o Haiti é o espelho da liberdade do mundo, ele está pagando até hoje a ousadia de se libertar e ter quebrado os negócios das potencias coloniais. Como seria o mundo hoje se, o Haiti não tivesse conquistado a sua Independência em 1804?

Ernst Casseus
Ativista pró imigrantes

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